Bem vinde. Você chegou no sambaqui de Diego Araúja, artista da programação 2021 do FIAC Bahia. Laboratório Internacional de Crioulo [LIC] é uma obra que manifesta um desejo. Será seu farol durante a escavação pelas referências e produções desse artista. Ao apresentar seus caminhos poéticos, existenciais e libertários, Diego Araúja nos propõe um pacto de interação que exige um tempo específico de relação com o conteúdo.

“Um tempo que, se não for um tempo qualitativo, é, pelo menos, um tempo necessário para se estabelecer uma relação. Uma fuga do tempo social (cronológico) e do tempo da sobrevivência (se possível), para a interação”.

Laboratório Internacional de Crioulo [LIC] é o ponto de partida para o sambaqui de Diego Araúja. No dia 31/10 o artista esteve com a gente ao vivo, apresentando no FIAC, junto ao público virtual, este projeto de experimentação estética fruto de fusões e relações e que instaura outras temporalidades que você está prestes a vivenciar.

Nosso convite é para você se aproximar da existência alagada, fluída e densa que é este Sambaqui de Diego Araúja: um ambiente de invenções, que cria espacialidades e temporalidades em busca de um Não-Tempo e de uma linguagem emancipada.

O Laboratório Internacional de Crioula (LIC) é uma obra comissionada pelo Programa Pivô Satélite, 2020.

Língua de contato...............: CRIOULAGEM
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Língua de contato...............: CRIOULAGEM

acredita.se.quê..//:…………:// A palavra crioulo nasce da palavra CRIAR

Toda língua em sua origem é uma língua crioula

O Laboratório Internacional de Crioula [LIC] é uma obra comissionada pelo Programa Pivô Satélite, 2020. Acesse o Laboratório Internacional de Crioula [LIC] aqui.

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Lá é a casa e o ponto de partida – possivelmente num daqueles saveiros atracados na Avenida Porto dos Tainheiros ou, melhor, num barco de pescador, de onde é possível ver a Ilha do Rato.
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Lá é a casa e o ponto de partida – possivelmente num daqueles saveiros atracados na Avenida Porto dos Tainheiros ou, melhor, num barco de pescador, de onde é possível ver a Ilha do Rato.

“Tudo que proponho em arte nasce dessa influência familiar e íntima. Sempre que crio ou projeto, volto para Alagados de Itapagipe. Essa minha possibilidade de existência poética se apresenta enquanto algo de indissociável”. Diego Araúja

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Laboratório Internacional de Crioulo é projeto de experimentação estética, de língua e linguagem em afro-perspectiva, e à longo prazo.
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Laboratório Internacional de Crioulo é projeto de experimentação estética, de língua e linguagem em afro-perspectiva, e à longo prazo.

Instaura um agrupamento atlântico (internacional) entre artistas do corpo para conceber “uma língua não-nascida do trauma”, uma linguagem e uma língua fora da temporalidade das mutilações físicas e psíquicas – condição dissimulada na experiência de um afro-brasileiro. É território de criação de uma ferramenta artística construída a partir de relações, fusões e encontros colaborativos entre artistas do corpo das periferias do mundo capitalista numa prática laboratorial. Se inspira nas línguas crioulas americanas e africanas, nas teorias da crioulidade e das poéticas da relação (à saber, em Patrick Chamoiseau e Èdouard Glissant).

“Édouard Glissant escreve sobre acreditar na possibilidade de uma crioulização não nascida da violência. Contudo, ele procurava, mas não encontrava esses exemplos. (…) Não sei se ele encontrou exemplares depois, mas gostaria de contribuir, dando esse exemplo (o LIC), embora tardio”.

O Laboratório Internacional de Crioula [LIC] é uma obra comissionada pelo Programa Pivô Satélite, 2020. Acesse o Laboratório Internacional de Crioula [LIC] aqui.

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“Eu digo que talvez o caminho seja crioulo. Ou seja, culturas, métodos, pensamentos que se intervalorizam, que não estejam numa relação hierárquica diante ao outro”.
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“Eu digo que talvez o caminho seja crioulo. Ou seja, culturas, métodos, pensamentos que se intervalorizam, que não estejam numa relação hierárquica diante ao outro”.

“Uma nova língua crioula que não teve a temporalidade da sobrevivência como seu fundamento, como sua base estimulante de comunicação, que é o que temos, que é o que está posto para nós nessa relação com a linguagem”.

Quando eu falo dessa relação transdisciplinar, expandida, de intervalorização do pensamento, de um certo hibridismo, talvez seja um caminho interessante, esse pensamento e essa produção e essa ética crioula. Que é o novo. É um processo importante. Quando a gente fala dessas coisas da tradição, parece que a gente está falando de um certo retorno. Não é. É abrir para um novo pensamento de ser homem, um novo pensamento de organização social, e neste caso, de uma organização artística, de uma organização estética. Não necessariamente superar uma coisa à outra. Mas intervalorizar isso”.

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“Quando se está no quilombo, você tem as presenças, você começa de fato a organizar uma existência”
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“Quando se está no quilombo, você tem as presenças, você começa de fato a organizar uma existência”

Diego Araúja é um artista pensador, que realiza uma produção em arte expandida, com uma visão política, crítica do mundo, a partir de uma afroperspectiva. Suas mídias são literárias, visuais, cênico-performáticas e audiovisuais; nas funções de diretor, cenógrafo, dramaturgo, roteirista e escritor. Dirige o processo Estética Para um Não-Tempo desde 2015, com o objetivo de instaurar tempos qualitativos para a produção de memórias afro-diaspóricas emancipadas do trauma. Este processo gerou a obra cênico-instalativa “Quaseilhas” (2018-2020). Em 2010 fundou o Teatro Base, onde atuou como diretor, produtor, pesquisador e dramaturgo por 7 anos. Em 2017, juntamente com a artista Laís Machado, fundou a Plataforma ÀRÀKÁ, território de criação e produção em arte expandida, e de conexão entre artistas afro-atlânticos.

Àràká é uma palavra do idioma yorùbá que significa “aquele que se expande”. O nome também é associado a divindade Òṣùmàrè.

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“Seu corpo começa a se conectar com as coisas, a se conectar com as pessoas, se conectar com tudo. Ou seja, começa a existir, a ter uma atuação em gerúndio.”
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“Seu corpo começa a se conectar com as coisas, a se conectar com as pessoas, se conectar com tudo. Ou seja, começa a existir, a ter uma atuação em gerúndio.”

“A partir dessa ética de retorno, Práticas Geophagicas (As Geophagias) está mais para um exercício, que pode ser metodológico ou de análise (relação ou produção). Quando se instaura uma prática geophagica é como se déssemos conta dos banzos, da consciência traumática da carne. Havendo essa consciência, começamos a projetar um caminho, necessariamente poético, para a concretização de outras perspectivas de existência”

“É bom partirmos do entendimento de que “geophagia”, aqui, está em outro sentido. Para quem se relaciona com a história afro-brasileira, sabe que essa palavra ganhou sentido enviesado no Brasil. Pois a prática de ingerir terra se tornou um meio de libertação da pessoa escravizada através do suicídio. Logo, melhor do que ressignificar através do dado historiográfico, proponho um retorno ao seu sentido natural, a busca de outros nutrientes para o corpo”.

 

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Não existe um mundo decolonial.
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Não existe um mundo decolonial.

“A ideia de decolonialidade, é um processo, é uma construção, ela funciona em atitude“.

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"meus processos: tecnologias inventadas, assimiladas, cinicamente roubadas, por vezes falsamente ancestrais, outras dignificadas pelos antepassados, ficcionais ou abstraídas em meio a bebedeira de cafeína e politicamente expropriadas; organizadas numa dimensão estético-espacial"
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"meus processos: tecnologias inventadas, assimiladas, cinicamente roubadas, por vezes falsamente ancestrais, outras dignificadas pelos antepassados, ficcionais ou abstraídas em meio a bebedeira de cafeína e politicamente expropriadas; organizadas numa dimensão estético-espacial"

“É este território, ou temporalidade contrária ao tempo da sobrevivência, que chamo de Não-Tempo. Tudo isso, com o desejo de favorecer, através de uma transperspectiva, a produção de consciências da carne emancipada”.

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